sexta-feira, 15 de junho de 2012

Caso Valdívia

Fala pessoal,

Resolvi escrever esse post pra falar de uma coisa que jornalista nenhum se toca quando fala de contrato de jogador.

Rolou essa história de que o Valdívia queria sair do Palmeiras após seu sequestro.

Vários jornalistas disseram "uai, se ele quiser sair, é só pagar a multa e sair", afinal ele está preso ao contrato com o Palmeiras.

A análise jurídica não é de todo incorreta, porque, de fato, ele tem um contrato com prazo determinado e deve cumpri-lo até o final. Se quiser sair, paga a multa.

Porém, o que todo mundo esquece é que no caso de um jogador de futebol, diferentemente de um funcionário qualquer com contrato por prazo determinado, existem estratégias que o jogador pode usar para ganhar força na sua negociação.

Vejam, eu NÃO estou dizendo que o Valdivia fez, está fazendo ou fará isso. O que eu estou dizendo é que essas estratégias existem, e são motivo de temor pelos clubes em negociações deste tipo.

Explico uma das "estratégias", para depois relacioná-la ao caso.

A mais básica é o famoso "corpo mole".

Num contrato por prazo determinado com um funcionário de uma empresa, caso ele não esteja indo trabalhar, ou não cumpra certas determinações do empregador, ele pode ser demitido por justa causa, e aí a empresa não tem que pagar multa nenhuma.

No caso de um jogador de futebol com contrato por prazo determinado, no entanto, a coisa se complica um pouco, porque o empregador não tem como dizer que o funcionário (jogador) não está cumprindo suas ordens para demiti-lo por justa causa e não pagar a multa!

Claro, se o jogador faltar em treinos, xingar todo mundo ou agredir alguém, o Palmeiras pode demiti-lo.

Mas e se o jogador comparece nos treinos, mantem-se "na linha", mas joga mal de propósito em treinos/jogos? Como você vai dizer que ele não está cumprindo o contrato? Como você vai dizer a um juiz que há uma justa causa para ele ser demitido?

Pois aí que está, não há justa causa por um jogador jogar mal!

E como isso influencia em casos como o do Valdívia?

Vamos dizer que o Palmeiras force a mão e exija que o Valdivia fique se não pagar a multa. Isso, num primeiro olhar, é o correto a se fazer, pois o clube perderia dinheiro deixando o jogar ir embora de graça.

Porém, vamos supor que o Valdívia falasse: "Ok, eu vou ficar. Treinarei, obedecerei. Mas vou ser um cone em campo".

A partir daí, o Palmeiras teria sim um jogador. Mas teria apenas o prejuízo de pagar-lhe os salários, porque ele não serviria de nada ao clube.

Sendo um salário alto, o Palmeiras, no fim, teria um prejuízo, e não um lucro ao manter o Valdívia até o final de seu contrato, porque jamais poderia extinguir seu contrato sem provar que ele está fazendo corpo mole de propósito, o que é literalmente impossível numa ação na justiça, desde que o atleta fosse em todos os treinos, etc (seria a chamada "prova diabólica").

Notem como a questão foge do aspecto jurídico, tendo uma cargam muito mais negocial.

De um lado, o clube garantiria que não libera o jogador antes do final do contrato, correndo o risco de ele virar um cone propositalmente.

De outro lado, o jogador garantiria que virará um cone caso não seja liberado, correndo o risco de fazer ruir sua carreira se assim o fizer de verdade.

Abraço

OBS: Mais uma vez: não estou dizendo que o Valdivia fez, está fazendo ou fará isso. Apenas estou usando o caso como exemplo, até porque este sempre foi (e acho que sempre será) um atleta exemplar no aspecto do profissionalismo, na minha opinião.

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