quarta-feira, 23 de maio de 2012

Catching Hell

Fala pessoal,

Para quem não sabe, a ESPN americana fez uma série de documentários esportivos com algumas histórias fenomenais.

Alguns deles eu sei que já foram transmitidos pela ESPN no Brasil, mas a maioria ainda é desconhecida do público daqui.

Entre estes documentários está o "The Dotted Line", sobre o trabalho dos empresários do esporte por lá, sobre o qual já falamos aqui no blog.

Descobri um outro muito bom, o "Catching Hell - Steve Bartman Story", sobre a trapalhada de um fã do Chicago Cubs que teve influência direta no sonho do time de voltar a disputar o final do campeonato nacional.

Resumindo os fatos do filme, que são notórios: uma "flying ball" vem na direção do muro logo ao lado do assento do fã, e um dos atletas do Chicago Cubs pula pra tentar pegar a bola; se ele pegasse, a jogada possivelmente (provavelmente) deixaria o time a 3 eliminações de vencer o jogo e chegar às finais; o fã enfia a mãozona na bola e evita a eliminação do rebatedor!

O jogo era em Chicago, então imagina a reação da torcida! Não precisa nem imaginar, o documentário mostra...

O Chicago perde o jogo numa virada espetacular, depois perde a série, e a culpa cai no colo de quem?

Steve Bartman, o cara que "pegou o Inferno".

Fica a dica pra qualquer um que curta esportes.

http://www.youtube.com/watch?v=n4aoxIYgd64

Abraços!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Entrevista com Pedro Zerbini

Fala pessoal,

Fiz uma entrevista exclusiva com o tenista profissional brasileiro Pedro Zerbini, 23, uma das maiores promessas do esporte nacional.

Pedro saiu do Brasil com 16 anos, e veio e se tornar capitão do time de tênis da prestigiada University of California at Berkeley. Formado com diploma em Desenvolvimento Econômico, ele vem disputando torneios futures desde janeiro, após um período como undergraduate assistant coach na própria faculdade, nos quais conseguiu resultados animadores.

Na minha opinião, é o tipo de atleta que deveria servir de exemplo, assim como o Marcio Carlsson, de quem já falamos outro dia.   

Fica desde já o agradecimento ao nosso entrevistado e ao seu técnico, Zach Gilbert, formado na mesma universidade, com quem Pedro divide os momentos no circuito.


Antes de tudo, como você prefere ser qualificado: tenista profissional, tenista universitário e profissional brasileiro,...?
Por mim realmente tanto faz. Como eu já me formei, talvez tenista universitário não caiba mais. Entre profissional e profissional brasileiro, vocês que mandam!

Qual foi o seu papel no time da faculdade?
Nos meus tempos de faculdade eu fui capitão do time nos meus últimos 2 anos e joguei de número 1 simples três dos quatros anos. Acho que o mais importante foi passar para os mais novos um pouco da experiência que eu e os outros tenistas mais velhos adquirimos durante nossos 4 anos da faculdade. O time acaba sendo sua segunda família. São as pessoas com quem você passa 90% do seu tempo. Não só durante os treinos, mas muitas vezes você acaba tendo a mesma matéria na faculdade, almoçando e jantando juntos, sem contar as inúmeras viagens. Então, acho que como capitão o mais importante era fazer de tudo para que o clima entre os integrantes do time fosse agradável. Não difere muito de um escritório, onde um bom ambiente ajuda no nível de sucesso alcançado.

Pedro, fale um pouco dos seus últimos resultados por aí.
Meus primeiros torneios profissionais foram na Turquia, onde eu acabei me machucando na primeira semana e infelizmente tive que voltar para Berkeley para me recuperar dessa lesão. O primeiro torneio depois de me machucar foi na região de Los Angeles. Acabei passando o quali e chegando nas quartas de final, conseguindo meus primeiros pontos na ATP. Depois de LA eu e o Zach fomos para Oklahoma City e Little Rock. Em Oklahoma City eu tive que passar pelo quali de novo e acabei conseguindo meu primeiro resultado mais expressivo. Cheguei na final do torneio ganhando de bons jogadores no caminho. Esse resultado me motivou bastante para continuar firme nesse mesmo caminho. Ganhei um SE para Little Rock, mas perdi na primeira rodada da chave. Voltei pra Berkeley e semana passada vim para Florida, para um serie de 3 torneios. Semana passada, em Vero Beach, passei o quali e cheguei na final. Foi uma semana muito dura, pelas condições da quadra, que estava pesada, e pelo clima quente e úmido. Esta semana estou em Orange Park, começando na chave amanhã de manhã (infelizmente, Pedro perdeu este jogo).

Quais são suas metas para esse ano?
Em nenhum momento eu estabeleci uma meta com o Zach. A gente nunca parou pra pensar em ranking, pontos, etc. Mas eu acho que o ideal seria conseguir começar a jogar mais torneios do nível challenger e me manter nesse nível. E para isso meu ranking ainda tem que melhorar bastante.

Como e quando se deu sua decisão de sair do Brasil e treinar/estudar nos EUA?
A decisão de sair do Brasil veio na metade do 2o colegial. Eu tinha 16 anos (acho) e queria passar um semestre fora, estudando e jogando. Um grande amigo meu, Marcos Haertel, tinha acabado de voltar de uma academia de tênis chamada Weil Tennis Academy e falou super bem do lugar. Eu tinha algumas outras academias em mente, mas depois que ele voltou e falou o quanto tinha gostado, a decisão ficou mais fácil pra mim. Acabei indo pra passar 6 meses e estou morando nos Estados Unidos há 6 anos e meio. O primeiro semestre na Weil foi muito bom e o diretor da academia, Mark Weil, me convidou para ficar mais um tempo por lá, já pensando em ir para uma Universidade americana do futuro. Foi uma decisão difícil na época, mas hoje eu posso afirmar com certeza que ficar nos EUA foi uma das melhores decisões que eu já tomei.

Foi uma decisão fácil ou bateu aquele medo? Quais fatores pesaram na sua decisão?
Não foi uma decisão nem um pouco fácil. Por um lado eu tinha toda a infraestrutura americana, tendo a chance de aprender sobre uma cultura nova e conhecer gente do mundo inteiro. Mas por outro, eu estava longe da minha família, meus amigos, minha casa. Então foi bem difícil e demorou algumas boas semanas para finalmente chegar a uma conclusão de que eu não fosse me arrepender no futuro. Eu tive sorte de sempre poder contar com o apoio da minha família e amigos, independente de onde eu decidisse morar.

Seu desempenho acadêmico aqui no Brasil teve alguma relevância para a admissão na faculdade?
Teve, muita. No Brasil eu era um estudante que estava sempre ali na média. Tirava meus C's, alguns B's. De vez em quando aparecia com um D ou outro. Sempre dava um jeito de passar; nunca tive muitos problemas. Mas quando as minhas notas do Brasil foram submetidas no processo de aplicação para UC Berkeley o pessoal de lá não ficou muito contente. Eles são muito rigorosos, por serem uma das melhores universidades americanas. Mas no fim deu tudo certo!

Como era sua rotina de treinos e de vida?
Na universidade eu fazia musculação de manha (8-9) três vezes por semana. Treino de quadra das 2h30-5h30 de segunda a sábado. Domingo a gente tinha livre, tirando os finais de semana de competição, q eram muitos. As aulas variavam bastante, mas a maioria dos tenistas tinha aula de manha, entre a musculação e o treino. Alguns dias eram mais cansativos que outros e a rotina era bem puxada. Mas eu sempre gostei muito.

Qual a maior dificuldade que você enfrentava no cotidiano?
Era difícil achar tempo pra relaxar. Sempre tinha alguma coisa pra fazer. Acho q o mais importante era saber organizar as horas do dia e aproveitar o tempo livre entre alguma coisa e outra. Às vezes tinha que dar uma escapada das aulas e dormir um pouco mais. Mas é normal!

Sua cabeça está em seguir carreira no esporte ou não? 
Hoje em dia eu tenho mais claro na minha cabeça que quero seguir com o tênis. Por um tempo, eu estava super confuso. Não sabia se queria procurar outro tipo de desafio, se ia voltar pro Brasil, tentar achar um emprego etc. Mas aos poucos foi ficando mais claro que o tênis ia fazer muita falta. Mais uma vez fiquei bem satisfeito com a minha decisão.

Você acredita ser possível conciliar a vida de atleta com a de estudante? Achou em algum momento que teria que deixar uma delas em segundo plano ou não é necessário?
Nos anos que eu passei na universidade, conciliar o esporte com os estudos não era uma opção, era realidade. Havia dias, semanas em que era mais difícil. Com trabalhos, redações, provas para entregar/fazer. Mas você acaba se acostumando e no fim tudo vale à pena. Hoje em dia, que eu só preciso focar em jogar meu tênis, não tenho do que reclamar.

Pensa em voltar para o Brasil ou quer viver por aí?
Sempre passa pela cabeça voltar pro Brasil, principalmente por causa da minha família. Mas eu gosto muito daqui também. Meus pais me visitam sempre que conseguem e eu volto pro Brasil quando tenho tempo também. No começo foi mais difícil, mas hoje em dia eu me sinto mais acostumado com esse vai e vem.

Que tipo de iniciativa esportiva que você vê na faculdade por aí que não existe aqui no Brasil?
Às vezes eu converso com amigos meus do tênis que fizeram faculdade no Brasil. Acho que a maior diferença é o incentivo que as universidades americanas dão ao esporte. Os atletas tem inúmeros privilégios. Muitos só entraram na universidade por causa do esporte, assim como eu. Sem o tênis, dificilmente eu teria estudado em Berkeley. No Brasil acho que é muito diferente. Primeiro vem a parte acadêmica e depois que o aluno foi aceito, as faculdades vão atrás pra saber se ele/ela é bom em algum esporte. Essa, pra mim, é a maior diferença. Muitos amigos meus tiveram que largar o tênis, o futebol, a natação para focar nos estudos. Já que no Brasil o esporte universitário não tem a mesma infraestrutura e não é levado tão a sério como nos EUA, muitos talentos são perdidos. Não existe prioridade nenhuma dada aos atletas no processo seletivo universitário no Brasil.

Recebeu algum tipo de incentivo enquanto estava no Brasil (ex:grana, material, pagamento de custas? Se sim, veio de patrocinador, clube ou da família mesmo?)
Nunca recebi nada de ninguém quando estava no Brasil. Hoje em dia eu conto com o apoio parcial no pagamento das minhas passagens aéreas. De resto, sempre fui bancado pela minha família, infelizmente. Na faculdade eu tinha bolsa e todo material era providenciado por eles. Mas já não tenho mais essa mordomia.

De quem vem o apoio para o pagamento de suas passagens?
Esse apoio vem de um amigo familiar que gosta muito do esporte. É um cara muito gente fina e estava disposto a ajudar com as passagens, então foi muito bom pra mim.

Os atletas universitários por aí recebem algum tipo de remuneração?
Não, atletas universitários são considerados amadores e não podem receber nenhum tipo de remuneração. É uma das maiores violações da NCAA (National Collegiate Athletic Association).

Já viu algum projeto esportivo no Brasil que se assemelhe ao que fazem por aí?
Infelizmente não. Em minha opinião, o Brasil ainda está muito atrás dos EUA. O apoio que as universidades recebem do governo norte americano, de ex-estudantes, de outras instituições fazem o esporte universitário nos EUA ser levado muito mais a sério. Com certeza o Brasil tem vários centros de treinamento com profissionais capacitados, tanto é que o Brasil tem 3 ou 4 jogadores dentro ou próximos do top 100. Mas o suporte oferecido nos EUA ainda está em um nível superior.

Como você vê o tênis brasileiro na atualidade (tenistas, dirigentes, clubes)?
Faz tempo que eu não participo de um torneio no Brasil, então não tenho como saber detalhes de clubes e dirigentes. Mas, na minha opinião, acho que ter 3 ou 4 nomes no top 100 de simples e outros vários excelentes duplistas é um ótimo feito para o Brasil. Lógico que esses números podem melhorar muito se o apoio e investimento no esporte também aumentarem. Com um apoio maior, mais jogadores acabam conseguindo se aventurar em torneios mais fortes pelo mundo, consequentemente aumentando o número de jogadores com rankings mais expressivos.

O que fazer para mais brasileiros seguirem o mesmo caminho que você, digo, tentarem uma bolsa na Universidade e conciliarem estudos e treinos?
Eu acho que o mais importante é que os pais, tenistas, técnicos e todos aqueles envolvidos na evolução do tênis tenham a cabeça aberta para o esporte universitário. Muitos pensam que estudar nos EUA e jogar tênis universitário é o fim da carreira de um tenista. São poucos aqueles que conhecem a competitividade e o nível do tênis universitário americano. São inúmeros exemplos de jogadores que defenderam suas universidades e jogaram, ou ainda jogam tênis profissional. Jimmy Connors (UCLA), John McEnroe (Stanford), Todd Martin (Northwestern), Mike e Bob Bryan (Stanford), James Blake (Harvard), John Isner (Georgia), Kevin Anderson (Illinois). E muitos outros. Na minha opinião, não existe motivo para um jovem talento não ir para para uma universidade. Se ele/ela for realmente bom, depois de uma temporada universitária o tenista pode trancar a matrícula e seguir com o tênis profissional, tendo sempre a opção dos estudos caso o profissionalismo não dê certo. Ainda acho que alguns brasileiros são um pouco fechados a respeito do tênis universitário, mas seria muito legal ver uma mudança nesse aspeto em um futuro breve.

Abraços!

terça-feira, 8 de maio de 2012

Sobre a baixa média de público nos estádios

Fala pessoal,

O assunto desse post já é antigo, mas volta à baila sempre que os estádios ficam vazios em alguma final, como aconteceu, na verdade, em várias finais estaduais nesse último fim de semana.

Bom, o que não faltam por aí são "explicações" sobre a baixa média de público. Eu já ouvi várias: falta de segurança nos estádios, falta de conforto, transporte público deficiente, alto preço dos ingressos.

Mas nenhuma delas me convenceu. E eu explico.

Nenhuma dessas explicações se sustenta quando olhamos para os tempos em que os estádios eram cheios.

Por acaso nos tempos áureos das torcidas organizadas, havia segurança? Não, mas os estádios continuavam cheios.

Por acaso os estádios de 30 anos atrás eram confortáveis? Não, mas os estádios continuavam cheios (note que antes o Morumbi, por exemplo, abrigava até 130 mil pessoas, e hoje é até mais confortável, e abriga no máximo umas 75 mil).

Por acaso o transporte público naqueles anos era melhor do que hoje? Não, mas os estádios continuavam cheios.

Por acaso o preço dos ingressos era mais baixo do que hoje? Infelizmente não consegui encontrar os preços e comparar com o salário mínimo da época, mas pessoalmente, acho que a proporção não vai variar muito.

Bom, passados esses argumentos questionáveis que são muito propagados, a dúvida continua. Por que será que a média de público nos estádios é tão baixa?

Eu, pessoalmente, não tenho a pretensão de dar uma explicação completa aqui, mas tenho a sensação de que a explicação passa muito longe de tudo o que já ouvi.

Na minha opinião, o buraco é mais "embaixo".

Tenho a impressão de que o jogo  de futebol no estádio, como produto de vendas, foi ficando para trás ao longo dos anos. Claro que a segurança, o conforto e o valor do ingresso tem efeito sobre a decisão de compra do consumidor, no caso, o torcedor.

No entanto, acho que o futebol no estádio perdeu para a concorrência.

Bom, quais seriam os produtos concorrentes do programa "ir ao estádio de futebol"?

Sinceramente, não consigo identificar um concorrente direto, para formular uma frase do tipo "o cara não foi ao estádio para ir ao cinema".

No entanto, acho bem plausível dizer, por exemplo, que muitos jovens que, nos anos 80 iriam ao estádio com os amigos, hoje são jovens que se interessam por outros "produtos". Preferem ir a um bar, ou então se recuperar da balada de sábado (nos anos 80 não tinha taaanta balada quanto hoje, nem com tanta intensidade), pegar uma praia, e até mesmo ficar na frente do computador ou da televisão, vendo os seriados que perdeu durante a semana.

E o problema é que o ciclo é vicioso. Esse jovem que não vai ao estádio hoje não vai levar seu filho, que não vai levar o seu filho, que não vai levar...

Enfim, as explicações que sempre ouvimos não me convencem. 

Ah, e só pra registrar: não são explicações, são opiniões (assim como as que deixei aqui)...

Abraço!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O esporte por falta de opção

Fala pessoal,

Os comentários que recebi em razão do post falando sobre a remuneração dos tenistas me fizeram partir para uma outra reflexão, um pouco mais "geral" sobre o esporte aqui no Brasil.

Na minha percepção (por favor corrijam se estiver errado), a maioria dos atletas no país é levado a uma carreira profissional em sua modalidade por falta de opção de vida.

Pode parecer um pouco "demais" afirmar isso, afinal, gostamos de achar que os atletas são guiados por emoção, paixão pelo que fazem, etc.

Vejam, eu não pretendo dizer que a Fabiana Murer não ama o salto com vara, que o Marcelinho Carioca não adorava jogar futebol, ou que o Popó não curtia lutar boxe no quintal de casa com seus irmãos. Não é isso. 

Mas pensemos em uma coisa, que vale para a maioria dos esportes por aqui (aponto algumas exceções no final).

Geralmente, o cara que é atleta profissional e faz sucesso aos seus 25 anos de idade começou a praticar o esporte novinho, no colégio, no bairro, ou em algum clube.

Pensemos no perfil do atleta profissional que temos por aqui. A  maioria esmagadora teve origem humilde, indiscutivelmente, seja no futebol, no atletismo, no basquete, etc, concordam?

Agora imaginem o momento em que aquele adolescente (masculino ou feminino) que se destacou em competições e mostra um potencial bacana de crescimento se depara com as inevitáveis escolhas da vida, como, por exemplo, buscar uma carreira "formal" ou buscar uma carreira no esporte.

Pensem friamente.

Geralmente, esse adolescente não teve uma boa educação, afinal todos sabem como anda a educação pública em nosso país.

Geralmente, esse adolescente não tem uma boa base educacional para entrar em uma boa faculdade, não tem muita grana pra sustentar seus estudos, enfim...

Geralmente, se esse adolescente se destacou tanto em um esporte, ele deixou o estudo um pouco de lado, para treinar, viajar, etc.

Então, quando chega no momento de decidir o que fazer com os 50, 60 anos de vida que lhe faltam, você realmente acha que ele tem uma "fair choice" a fazer?

Na minha opinião, o adolescente acaba indo fazer aquilo que lhe possibilita ter uma vida melhor eventualmente (esporte), já que não lhe restou outra opção.

Lembro de uma participação do Wagner Ribeiro no SporTV há alguns anos. Perguntado sobre seu trabalho com adolescentes da base no futebol, ele deixou claro que sua preocupação era fazer o máximo para garantir uma boa carreira no futebol para os garotos, ponto final.

Eu não critico nem um pouco o trabalho dele, acho-o um grande empreededor, na verdade. Mas o exemplo serve para demonstrar que, da forma como o esporte em geral é conduzido no Brasil, os atletas estão nisso por lhes faltar outra opção viável de vida. 

Na minha opinião, isso é uma das grandes diferenças do nosso país para o antro sagrado do esporte mundial, os Estados Unidos.

Lá, quase sempre o atleta tem uma opção de vida, caso decida abandonar o esporte, ou se lesione, por exemplo. Afinal, grande parte dos atletas é "compelido" a estudar e entrar em uma faculdade respeitável para ganhar notoriedade. É assim com o basquete e o futebol americano, por exemplo.

No caso, o garoto ou garota "bom de bola" é cobiçado por faculdades, que desejam chamar atenção tanto pelo aspecto acadêmico quanto pelo aspecto esportivo. Dessa maneira, o jovem acaba tendo uma escolha ao final da carreira acadêmica: esporte ou escritório?

Bem diferente do que vemos aqui.

Esse "sistema" que impera no Brasil traz muitas consequências conhecidas. A principal delas é o baixo nível cultural dos atletas, que ainda são tidos como ídolos e exemplos da criançada.

Mas há outras consequências ruins.

O alteta de sucesso, por exemplo, muitas vezes não tem noção de como lidar com dinheiro, como administrá-lo razoavelmente. Uma vez que se aposenta, o que vai fazer?

E quem não dá certo no esporte, não tem pra onde correr. Pensem no atleta que não estudou e não foi bom o suficiente pra vencer no esporte. E aí?

É por motivos como esse que fiquei tão feliz quando vi aquela notícia sobre o Audax, sobre a qual postei aqui há alguns dias (http://esporteeminhaamante.blogspot.com.br/2012/04/audax-o-time-do-abilio-diniz.html). Acho um negócio muito, mas muito legal.

Como disse no começo do post, há, evidentemente, exceções a este raciocínio, ou seja, atletas que livremente escolhem a carreira esportiva podendo fazer outra coisa. Alguns exemplos que me vem à mente são o Marcelinho Huertas (basquete), Flávio Canto (judô) e a maioria do pessoal do automobilismo e vela.

Entretanto essas exceções, na minha opinião não anulam a regra.

Fico aberto às opiniões contrárias.

Abraço!