sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Jornalismo esportivo

Fala pessoal,

Tudo certo?

Já falamos muito por aqui a respeito do marketing esportivo, e, na maioria das vezes, com um olhar bem crítico. Ultimamente me deu vontade de fazer o mesmo com o jornalismo no esporte.

Bom, sem maiores demoras, passemos ao assunto.

A crítica principal aqui é para a maneira como é feita a divulgação de esportes e atletas no Brasil.

Um livro muito interessante que tenho lido, à respeito da criação e cultivo de marcas (ou "branding", pra quem preferir), explora o caso da ESPN norte-americana, e como este veículo de comunicação se tornou uma máquina de criar fãs, ídolos, entretenimento, notícia, e, claro, dinheiro.

É bem interessante a maneira como a ESPN trata seu produto e veicula sua imagem, afinal, a publicidade do canal é feita não por meio de anúncios, mas pelo próprio conteúdo de seus canais (televisão, revista, site, etc).

Comparando o caso da ESPN americana com a brasileira, acho que é possível perceber um pouco mais fácil o que falta na nossa mídia jornalística e, consequentemente, na publicidade esportiva.

Por lá, desde o começo, valorizou-se muito a produção de um conteúdo que destacasse os méritos da conquista individual esportiva. Veja, aproveitando-se da valorização capitalista da meritocracia, e da idolatria da imagem do "self made man", a ESPN transportou para o mundo dos esportes o paradigma do homem vencedor.

Assim, ganhou espaço na mídia aquele atleta que conseguiu personalizar o sonho do homem comum americano, qual seja, o homem que incorpora o valor do trabalho duro e dedicado, e que busca se superar a cada dia em seu ambiente de trabalho. Esse era o sonho da população, e esse foi o atleta que a ESPN buscou divulgar.

Por aqui, infelizmente, não se vê uma simbiose entre o conteúdo da programação e os desejos e valores buscados pelo espectador esportivo. Por aqui, o que vemos, infelizmente, são matérias geralmente "pasteurizadas" sobre futebol e grandes eventos de outras modalidades.

Como grande consumidor da ESPN e de todo material esportivo que há, acho que posso dizer tranquilamente que queríamos mais. Queriamos a exploração do perfil detalhado de cada atleta, conhecer sua história, suas motivações, suas pequenas vitórias no cotidiano, sua vida fora do campo, etc.

Infelizmente, nem a ESPN nem os "players" do mercado esportivo se abrem ao escrutínio.

Nenhuma atleta quer abrir sua intimidade. Nenhum empresário quer mostrar seu trabalho. Ninguém quer mudar a forma de fazer jornalismo.

Motivos para esta inércia são inúmeros.

Os atletas não tem interesse nenhum em abrir o jogo, para que possamos conhecê-los. Isto implicaria mostrar seu cotidiano de baladas, vida desregrada fora dos gramados (no caso do futebol), vida de luxo (o que não é pecado, na minha opinião, afinal o atleta que venceu merece a recompensa). Fora isso, abrir-se seria um risco, pois aquele atleta pouco preparado e pouco instruido talvez mostrasse pouca ou nenhuma conexão com o público, por falta de carisma, falta de história, ou falta de eloquência.

Os empresários (aqui incluídos clubes, marcas esportivas e agentes) não querem mudar pois do jeito que está se ganha um bom dinheiro, então por que arriscar? Por que mudar?

Os jornalistas não mudam também por comodismo. A audiência se encontra distribuída de forma cômoda à maioria dos veículos e dinossauros que vemos por aí. Os formatos dos programas não comportam grandes mudanças, pois poucos se adaptariam a isso, seja por incompetência, seja por falta de vontade - e além disso, o medo de mudar e perder audiência é certo, como já falou Tiago Leifert nesta palestra: http://www.youtube.com/watch?v=_sNEn_Fjwc0 )

Quem perde com isso são todos os envolvidos.

É só ver a magnitude que é dada ao esporte no mercado americano, por exemplo. Todos os dias temos jogos, emoção, histórias. É isso que deixa inquieto o fã, que cria memórias inesquecíveis, que gera interesse perene, e, enfim, que gera receita.

O maior argumento da mesmice é o de que o Brasil é o país de um único esporte, o futebol, e que a produção de um conteúdo diferente (sobre basquete, handebol, etc, não daria audiência ou receita).

Bom, isso é uma defesa para a restrição do conteúdo, não do formato, pra começar. Mesmo falando apenas sobre futebol, poderíamos ter programas melhores e diferentes, como o documentário que a própria ESPN fez sobre o futebol de areia.

Não obstante, acho que existe sim espaço para outros esportes, sem que se perdesse audiência ou interesse dos fãs de futebol. Acredito que uma boa história será sempre uma boa história. Ou por acaso algum amante de futebol não se interessou pela frustração do Diego Hipólito nas Olímpiadas ou a consagração do Arthur Zanetti? Ou pela eleição da Alessandra como a melhor jogadora de Hand do mundo? Ou pela peregrinação do Pedro Zerbini, entrevistado por aqui, pra tentar chegar nas cabeças do tênis?

O problema é que ninguém dá atenção para os esportes "menores", então fica muito difícil descobrir essas pequenas grandes histórias fora da época de Olímpiadas, por exemplo. No caso americano, qualquer eventozinho esportivo tem uma câmera, há interesse. Assim, sempre aparece uma imagem de um garoto de 15 anos fazendo uma cesta de 3 pontos a 1 segundo do final da partida, ou um garoto de little league fazendo 3 home runs numa partida.

Como mudar?

Ainda não sei, mas quando descobrir eu aviso.

Abraços

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