segunda-feira, 7 de maio de 2012

O esporte por falta de opção

Fala pessoal,

Os comentários que recebi em razão do post falando sobre a remuneração dos tenistas me fizeram partir para uma outra reflexão, um pouco mais "geral" sobre o esporte aqui no Brasil.

Na minha percepção (por favor corrijam se estiver errado), a maioria dos atletas no país é levado a uma carreira profissional em sua modalidade por falta de opção de vida.

Pode parecer um pouco "demais" afirmar isso, afinal, gostamos de achar que os atletas são guiados por emoção, paixão pelo que fazem, etc.

Vejam, eu não pretendo dizer que a Fabiana Murer não ama o salto com vara, que o Marcelinho Carioca não adorava jogar futebol, ou que o Popó não curtia lutar boxe no quintal de casa com seus irmãos. Não é isso. 

Mas pensemos em uma coisa, que vale para a maioria dos esportes por aqui (aponto algumas exceções no final).

Geralmente, o cara que é atleta profissional e faz sucesso aos seus 25 anos de idade começou a praticar o esporte novinho, no colégio, no bairro, ou em algum clube.

Pensemos no perfil do atleta profissional que temos por aqui. A  maioria esmagadora teve origem humilde, indiscutivelmente, seja no futebol, no atletismo, no basquete, etc, concordam?

Agora imaginem o momento em que aquele adolescente (masculino ou feminino) que se destacou em competições e mostra um potencial bacana de crescimento se depara com as inevitáveis escolhas da vida, como, por exemplo, buscar uma carreira "formal" ou buscar uma carreira no esporte.

Pensem friamente.

Geralmente, esse adolescente não teve uma boa educação, afinal todos sabem como anda a educação pública em nosso país.

Geralmente, esse adolescente não tem uma boa base educacional para entrar em uma boa faculdade, não tem muita grana pra sustentar seus estudos, enfim...

Geralmente, se esse adolescente se destacou tanto em um esporte, ele deixou o estudo um pouco de lado, para treinar, viajar, etc.

Então, quando chega no momento de decidir o que fazer com os 50, 60 anos de vida que lhe faltam, você realmente acha que ele tem uma "fair choice" a fazer?

Na minha opinião, o adolescente acaba indo fazer aquilo que lhe possibilita ter uma vida melhor eventualmente (esporte), já que não lhe restou outra opção.

Lembro de uma participação do Wagner Ribeiro no SporTV há alguns anos. Perguntado sobre seu trabalho com adolescentes da base no futebol, ele deixou claro que sua preocupação era fazer o máximo para garantir uma boa carreira no futebol para os garotos, ponto final.

Eu não critico nem um pouco o trabalho dele, acho-o um grande empreededor, na verdade. Mas o exemplo serve para demonstrar que, da forma como o esporte em geral é conduzido no Brasil, os atletas estão nisso por lhes faltar outra opção viável de vida. 

Na minha opinião, isso é uma das grandes diferenças do nosso país para o antro sagrado do esporte mundial, os Estados Unidos.

Lá, quase sempre o atleta tem uma opção de vida, caso decida abandonar o esporte, ou se lesione, por exemplo. Afinal, grande parte dos atletas é "compelido" a estudar e entrar em uma faculdade respeitável para ganhar notoriedade. É assim com o basquete e o futebol americano, por exemplo.

No caso, o garoto ou garota "bom de bola" é cobiçado por faculdades, que desejam chamar atenção tanto pelo aspecto acadêmico quanto pelo aspecto esportivo. Dessa maneira, o jovem acaba tendo uma escolha ao final da carreira acadêmica: esporte ou escritório?

Bem diferente do que vemos aqui.

Esse "sistema" que impera no Brasil traz muitas consequências conhecidas. A principal delas é o baixo nível cultural dos atletas, que ainda são tidos como ídolos e exemplos da criançada.

Mas há outras consequências ruins.

O alteta de sucesso, por exemplo, muitas vezes não tem noção de como lidar com dinheiro, como administrá-lo razoavelmente. Uma vez que se aposenta, o que vai fazer?

E quem não dá certo no esporte, não tem pra onde correr. Pensem no atleta que não estudou e não foi bom o suficiente pra vencer no esporte. E aí?

É por motivos como esse que fiquei tão feliz quando vi aquela notícia sobre o Audax, sobre a qual postei aqui há alguns dias (http://esporteeminhaamante.blogspot.com.br/2012/04/audax-o-time-do-abilio-diniz.html). Acho um negócio muito, mas muito legal.

Como disse no começo do post, há, evidentemente, exceções a este raciocínio, ou seja, atletas que livremente escolhem a carreira esportiva podendo fazer outra coisa. Alguns exemplos que me vem à mente são o Marcelinho Huertas (basquete), Flávio Canto (judô) e a maioria do pessoal do automobilismo e vela.

Entretanto essas exceções, na minha opinião não anulam a regra.

Fico aberto às opiniões contrárias.

Abraço!

Nenhum comentário:

Postar um comentário